sábado, 8 de maio de 2010

Cada com mais frequência a saudade bate na porta do meu coração

Ela não bate! Ela derruba, coloca no chão...
Sempre que eu vejo alguma senhora de cabelos brancos
Quando me lembro de como ela me chamava
Talvez seja porque o dia das mães esteja chegando
 E este é o primeiro que vou passar sem ela
Sempre que alguém fala de morte, doença ou hospital
Eu me lembro,
E como eu me lembro de cada imagem
Desde o primeiro até o ultimo dia naquele lugar
Eu não queria guardar essas imagens
Minha vontade era reter somente nossos bons momentos
Mas não consigo, me vem na cabeça o barulho da ambulância, a espera,
O medico dando a noticia e a enfermeira cortando suas roupas, e sua aliança.
Os dias foram se passando, noticias da intubação, infecção e das chances que teria.
Seu estado se agravando cada vez mais, pessoas morrendo, sentia um desanimo, uma dor, mas não era ela quem estava partindo, e com cada pessoa que se recuperava vinha também um animo, mas não era ela quem estava recebendo alta.
Era uma rotina cansativa sim, mas eu precisava ser forte, eu tinha que ser forte.
Quando meu avó chegou em casa tão cabisbaixo, tão triste eu sabia que ela não teria mais tanto tempo, eu queria , mas do que isso, eu tinha que me despedir.
Estava mais pálida, mas sem vida do que nos outros dias, seus lábios roxo, como todas as vezes falei que a amava e mesmo sabendo que no fundo ela queria dizer que também me amava que queria ouvir um ultimo “EU TE AMO”.
Segurei suas mãos, rezei, orei, cantei, fiz carinho na sua face, beijei, chorei...
Os aparelhos começaram a fazer alguns barulhos diferentes.
Aumenta a dose de adrenalina disse o medico, já me tirando da sala, sabia que seu coração havia parado, e que aquela era a última vez que via minha avó com um resto de vida, com vida!
Mesmo sabendo que ela iria dizer, esperei ouvir o oposto, fantasiei ouvir que o quadro clinico havia melhorado e que iria ficar tudo bem, mas não, a noticia foi real, e a mais dura também .
O choque, A noticia, Dar a noticia, Voltar pra casa, Velório, Caixão, Corpo.
Voltar ao hospital pra retirada do corpo foi o momento mais desumano, mais cruel, mais traumático da minha vida.
Aquela sala fria, com uma maca no centro, e um “embrulho” em cima, coberto apenas por um plástico zipado branco, sozinha, nem sequer um enfermeiro, um porteiro, nada.
E por mais que aquilo fosse normal em um hospital, aquilo nunca seria normal pra mim, não qualquer coisa que se joga fora, é um familiar, era meu familiar, era minha avó que estava ali, sem vida concordo, mas ainda assim a minha avó, ninguém tem o direito e descartar uma “vida” como se descarta uma latinha no lixo.
Fiquei com ódio daquele hospital, ódio daquela assistente social que não teve a humanidade de me acompanhar naquele momento, me mandou apenas assinar aquela droga de documento amarelo que liberava o corpo pro enterro, acompanhado de um sinto muito falso e mecânico.
E como eu queria que isso tudo não fosse real, que isso não tivesse acontecido comigo, pode ser egoísmo, mas que tivesse acontecido com qualquer um, menos comigo.
Por fora eu estava normal, aparentemente normal, mas por dentro um vazio daqueles que nunca senti, e que espero não sentir outra vez.
Sei que a morte é natural, a única certeza que temos desde a hora do nascimento, não se sabe quando, onde ou como, só sabemos que vai acontecer um dia.
Mas quando esse dia chega é surreal, diferente de tudo o que já imaginou um dia. Passei dois meses “me preparando” mas na hora é diferente.
E como eu queria dizer que a Amo e que sinto falta dela, que tenho saudade de sentar em seu colo e sentir que vou ser pra sempre sua netinha querida, queria pedir um beijo, um abraço.
Não sei onde estais agora
Mas eu te amo pra sempre vozinha.

Um comentário:

Di disse...

É, um vazio imenso que a gente sente. Com meu pai foi assim. Não sei se você acredita em Deus, mas eu espero que ele te dê conforto.

obrigada pela visita, volte sempre que desejar. :)

Seu template é muito lindo, delicado. Amei!